Atuação

• Coordenador do Serviço de Neurocirurgia e Neurologia do Hospital Unimed BH • Neurocirurgião do Biocor Instituto, Belo Horizonte, MG Membro Titular da Academia Mineira de Medicina • Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia • Membro do Congresso of Neurological Surgeons • Mestrado e Doutorado em Cirurgia pela UFMG

Especialidades

• Malformação • Artério Venosa • Aneurisma Cerebral • Cirurgia de Bypass • Revascularização Cerebral • Cirurgia de Carótida • Tumores Cerebrais • Descompressão Neurovascular • Doença de Moya-Moya Tumores da Base do Crânio Doppler Transcraniano

Contato

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Pajelança no STF


Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal por principiar.
                                               Guimarães Rosa


A judicialização da medicina é, sem dúvida, um dos fatores mais importantes para o encarecimento dos serviços de saúde no Brasil.
Nossa constituição reza que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado. Mas não impõe limites nem de gastos, nem de custos. Advogados e juízes, sem entender de medicina, podem decidir sobre tratamentos caros e, não raro, completamente ineficazes.
Assim, a caneta de um juiz pode exigir que o Estado ou planos de saúde paguem por tratamentos, mesmo se eles não forem comprovadamente eficazes. O problema é que se esta caneta não mata, ela também não salva. 
Não entender de medicina é compreensível. Mas não é difícil compreender o longo caminho que determinada medicação percorre para sair do ambiente de pesquisa, para tornar-se disponível para o receituário do médico.
Este caminho é uma pirâmide. Na base dessa pirâmide, estão os estudos em laboratório, que sugerem que determinado medicamento possa ter efeito terapêutico.  No degrau acima, essa droga é experimentada em animais. Quando parece ter algum efeito, ela passa a ser candidata a ensaios clínicos, envolvendo seres humanos.
Esses ensaios têm geralmente quatro fases. Na fase I, é estudada a segurança de uma droga que promete ser eficaz. Nessa fase, a eficácia não é estudada. O principal objetivo é determinar a dose adequada.  O que esse tipo de estudo quer responder é se é ou não seguro utilizar a medicação em humanos. Geralmente a pesquisa inclui entre 20 e 80 voluntários sadios.
Vencida essa primeira etapa, passa-se para a fase II. Nessa fase, a eficácia é testada. A medicação é utilizada em 100 ou 200 pacientes e confirma-se a segurança e efetividade para tratar alguma doença.
Vencida a etapa II, uma avalição em larga escala é planejada. São os ensaios clínicos que comparam a medicação nova com alguma já existente, ou placebo, uma composição que parece com a medicação, mas não tem nenhum efeito em nosso organismo. Para essa fase, chamada fase III, o número de pacientes é grande e esses estudos, muito caros, envolvem geralmente vários centros médicos de pesquisa.
Chegando ao topo da pirâmide de evidências, vários desses estudos, uma vez publicados, são avaliados quanto a possíveis falhas no método da pesquisa. Só assim, após esse longo percurso é que uma droga ou tratamento é largamente recomendado, ou seja, quando há evidências fortes de seu benefício para tratar doenças.
Um bioquímico da Universidade de São Carlos, Gilberto Orivaldo Chierice, no intuito de querer fazer o bem, está favorecendo o mal. Ignorando toda a pirâmide das evidências, ele resolveu prescrever para pacientes a fosfoetanolamina, um produto que ele testou em ratos de laboratório e que lhe pareceu eficaz no combate a um tipo de câncer. Se era bom para ratos com um tipo de câncer, pensou que pudesse ser útil para qualquer ser humano, com qualquer tipo de câncer.
Sem saber a dosagem correta, nem sequer se a droga era eficaz e para qual tipo de câncer, a medicação passou a ser distribuída por sua Universidade.
Por si só, isso já caracterizaria o exercício ilegal e irresponsável da medicina. Quando o erro foi percebido, a universidade cancelou o fornecimento da droga.
Pacientes passaram a utilizar a justiça para conseguir a nova panaceia.
O Tribunal de Justiça de São Paulo havia proibido o fornecimento da fosfoetanolamina, mas o caso chegou ao Supremo Tribunal Federal e, para surpresa de toda comunidade científica, o ministro Edson Fachin, em liminar, liberou o fornecimento da droga.
É de doer: em pleno século XXI, quando a medicina reclama seu status de ciência por meio da prática baseada em evidências, um ministro do Supremo decreta a volta à pajelança.




Revisão e formatação:
Rachel Kopit
Ophicina de Arte &Prosa
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Posted by Jair Raso 0 comentários »